terça-feira, janeiro 20, 2009

Se eu fosse...



Se eu fosse uma hora do dia, seria o entardecer, o inspirador pôr-do-sol em minha amada Brasília, cheia de cores e matizes a dançar no céu de Niemeyer...
Se eu fosse um astro, seria uma estrela cadente, daquelas raras que apontam no céu com a promessa de realizar desejos...
Se eu fosse uma direção, seria um atalho, repleto de possibilidades e destinos e talvez servindo de abrigo para o Lobo Mau...
Se eu fosse um móvel, seria uma cômoda antiga, feita de carvalho e detalhes de bronze, ostentando entalhes rebuscados, perfumes caros, gavetas emperradas e um velho e manchado espelho – com alguns reflexos distorcidos, mas verdadeiros.
Se eu fosse um líquido, seria Coca-Cola, vibrante, unânime, comercial e, claro, metido à besta...
Se eu fosse um pecado, seria a luxúria, dando beijos fugidios imprensados contra paredes e deslizando dedos por baixo das blusas...
Se eu fosse uma pedra, seria um mármore, lustroso, nobre e escorregadio...
Se eu fosse uma árvore, seria um carvalho, imponente, de madeira sisuda e competente, fazendo frondosos descansos e móveis de vida eterna...
Se eu fosse um fruto, seria um sapoti, maduro e adocicado, saboroso, para se comer usando as duas mãos...
Se eu fosse um clima, seria uma névoa, soturna e acolhedora, escondendo os raios de sol que inauguram a manhã...
Se eu fosse uma flor, seria um girassol, incompreendido, muitas vezes solitário, buscando sempre a luz do sol para iluminar suas inspirações...
Se eu fosse um instrumento musical, seria uma gaita de boca, cheia de ginga e malandragem, ares de sacana e arma de conquista...
Se eu fosse um elemento, seria a água, cristalina, pairando entre a dubiedade do doce e salgado, envolvente – berço de sereias e casa dos piratas...
Se eu fosse uma cor, seria o verde – cor viva, transmite paz, representante da natureza, das matas e da esperança...
Se eu fosse um animal, seria uma águia. Vôo majestoso, dançando nas correntes de ar e rasgando os céus como uma navalha na hora da caça....
Se eu fosse um som, seria o de um trovão, alto e reverberante, que assustam a alguns e fascinam outros, trazendo doces lembranças das paisagens vista das janelas, onde correm serelepes gotas ao seu encontro...
Se eu fosse uma música, seria alguma das clássicas do Barry White, voz grave e melancólica, oscilando entre o trovão e o sussurro falando de amor, tipo “You’re my first, my last, my everything”...
Se eu fosse um estilo musical, com certeza seria um jazz, incompreendido, daqueles mais viscerais...
Se eu fosse um sentimento, seria a saudade. Doída para os solitários e alegre para os que reencontram...
Se eu fosse um livro, seria “Mar Morto” do Jorge Amado, recontando histórias praieiras e cantando canções à beira-mar ...
Se eu fosse uma comida, seria um churrasco, picanha sangrenta assada na brasa despertando apetites e saciando vontades...
Se eu fosse um lugar, seria o topo de alguma montanha, isolado, acolhedor e imponente, desafiando ser conquistada...
Se eu fosse um gosto, com certeza seria o gosto das novas descobertas...
Se eu fosse um cheiro, seria o da terra molhada de chuva...
Se eu fosse uma palavra, seria conquista, pois é o desejo da conquista que impulsiona o desbravador...
Se eu fosse um verbo, seria aconchegar, para aninhar a mulher amada em meus braços...
Se eu fosse um objeto, seria uma mochila, daquelas de estimação, na qual se carregam escovas-de-dente, mp4, bloco de notas, canetas, velhos mapas, uma muda de roupas e sonhos para noites de verão...
Se eu fosse uma peça de roupa, seria um terno italiano, de cor sóbria, risca-de-giz impecável e corte perfeito, elegante e intimidador...
Se eu fosse uma parte do corpo, seria um par de mãos, curiosas, inquietas, fazendo cócegas, fazendo carícias, dando beliscões...
Se eu fosse uma expressão facial, seria o sorriso tranquilo, acordando satisfeito após uma noite de prazer...
Se eu fosse um personagem de HQ, seria o Super-Homem, preocupado com o bem estar de todos, capaz de mover o mundo com as mãos...
Se eu fosse um filme, seria “Moulin Rouge”, poder, sofisticação, belas mulheres, cassinos e romance, tudo entre uma taça de champagne e uma canção...
Se eu fosse uma forma, seria um triangulo, arestas, bases e vértices se cruzando no infinito de possibilidades....
Se eu fosse um número, seria o 5, base redonda, quase grávido, à espera de algo que o complemente...
Se eu fosse uma estação, seria o verão, com suas praias, surfistas, natureza e marcas de sungas e biquínis...
Se eu fosse uma frase, seria “... Depois, se acaso a glória entrar pela janela, a César não dever a mínima parcela, guardar para mim a gratidão mais pura. Enfim, sem ser a hera - a parasita obscura - nem a seringueira - gigante no caminho - subir, não muito, sim; porém subir sozinho!" (Edmond Rostand - Cyrano de Bergerac)

Um comentário:

J. disse...

Deu vontade até de bater palmas.
Adorei o texto!
Também queeeero!
Beijokas!