terça-feira, dezembro 22, 2009

pressa de tudo


Sabe, eu sempre fui uma pessoa que teve muita pressa. Pressa em crescer, pressa em brincar, pressa em amar, pressa em realizar e mais ainda, pressa em ser feliz.
Com o tempo descobri que ser feliz não tem pressa. Posso ter pressa em um monte de outras coisas, principalmente essas que citei acima, mas descobri nessa bagagem de trinta e poucos anos que não da para ter pressa em ser feliz. A felicidade a gente constrói com o hoje, todos os dias. Tem uma frase que eu gosto bastante e que a adotei como lema de vida. "A maioria das pessoas buscam tanto ser feliz o tempo todo que esquecem que a felicidade não está no destino, mas NA JORNADA!"
É a jornada que nos transforma. É a jornada que nos faz conhecer os mais variados tipos de pessoas e retirar de cada uma delas um aprendizado bom ou ruim, mas um aprendizado. É durante a jornada que nos moldamos e aprendemos como agir.
Ainda tenho pressa. Muita. De verdade. É a pressa de ver as coisas acontecerem, mas aprendi que não posso esperar o dia em que terei um salário maravilhoso e comprarei uma casa à vista ou o carro dos meus sonhos. A ordem da pressa é não esperar e sim, aprender a trabalhar ao lado dela.
Tenha pressa, mas não espere. Arrisque.
"Só entendi o valor do silêncio no dia que resolvi calar para não magoar alguém."

segunda-feira, dezembro 21, 2009

.: hipólita :.


Jonas era considerado uma pessoa amável, disponível, interessado e bruto. Sim, bruto. Ele odiava quando falavam isso e ficava com mais raiva ainda quando floreavam dizendo que ele não era bruto, apenas tinha pouca tolerância.
Por conta do seu temperamento e sempre se meter em assuntos que nem lhe diziam respeito, sua mãe achava que seria um bom advogado. Mas o ócio incomodava Jonas mais do que a injustiça e quando escolheu sua profissão queria uma em que tivesse algo diferente todos os dias, mesmo que tivesse que matar um leão diariamente.
Embora Jonas admitisse que gostava de brigar e defender seu ponto de vista ele hoje aos 30 anos estava longe de ser quem era aos 18. Alguns amigos de longa data admitem que ele está mais... tolerante. Pacífico, diriam alguns. Embora nunca tenha brigado de fato, com direito a socos e pontapés, ele sabia que sua língua, muitas vezes ferina, era sua maior arma.
Jonas não gosta, mas reconhece que perdeu o ímpeto. Perdeu a vontade de esbravejar, mesmo que continue se indignando com algumas atitudes. Principalmente em seu círculo de amizades. Não tolera mesquinhez e nem que um amigo deixe de conversar sobre o que o incomoda. Diz que não há nada que uma boa conversa não cure, melhor do que se esconder e ficar semeando achismos.
Embora costumasse guardar rancor e remoer a desilusão que tinha com as pessoas e, muitas vezes demorasse a perdoar, quando Jonas perdoava era de coração aberto. Tinha um grande amigo que passaram anos sem se falar, mas no dia que sentaram e conversaram parecia que esse tempo não havia passado.
Normalmente, quando Jonas estava triste com algum amigo, ele se recolhia para pensar e fazer um passo a passo mental buscando saber se havia errado e onde. Dava um tempo para a pessoa procurá-lo e, juntos, tentarem esclarecer as divergências. Nem sempre era bem interpretado, e isso o frustrava bastante. Quando chegava em casa desligava o telefone, tomava um banho quente e preparava uma dose de whisky. Sentava-se em sua poltrona cor de café, esticava as pernas e tentava fisgar um pedaço da lua pela janela do apartamento. Sempre que Jonas sentava na poltrona, sua cachorra Hipólita lhe fazia companhia em um desenfreado abanar de rabo. A daschund preta pulava em seu colo e com o focinho empurrava a palma de sua mão em busca de afago. Ali, por mais triste que pudesse estar com alguém, sabia que tinha uma amiga fiel.

domingo, dezembro 20, 2009

"Se existe vida após a morte, não me esperem, porque não vou."
[Frida Kahlo]

sexta-feira, dezembro 18, 2009

.: casual :.


A temperatura fria do quarto fez com que Jonas puxasse o lençol e cobrisse parte do corpo deixando os pés de fora. Era consciente, sempre tinha que deixar os pés de fora pois assim não se sentia sufocado.
O reflexo no teto de seu peito nu o desagradava. Não gostava da exposição do corpo e puxou o lençol mais pra cima, cobrindo seu torso. Cruzou os braços no alto do cabeça e ficou divagando enquanto ouvia o barulho do chuveiro.
De repente desejou não estar mais ali. Queria levantar pegar suas roupas e partir. Mais ainda, queria voltar no tempo e ter desejado nunca ter estado ali. Jonas puxou o lençol para o lado e se levantou. Caminhou até o banheiro e observou Lorena tomar banho. Voltou ao quarto, vestiu a cueca e a calça. Calçou-se.
Sentou-se na cama e ficou olhando para o tempo. Pensava em o porque estava ali, em um sexo fullgás de menos de duas horas. Lorena saiu do banho enrolada na toalha, subiu na cama e o abraçou pelas costas. Seus seios molhados roçavam em suas costas enquanto beijava sua nuca.
- Vamos embora. - Em um tom seco, Jonas virou-se e a beijou com ternura. Lorena o beijou com os olhos abertos e permaneceu sentada. - Tenho sono e ainda vou lhe deixar em casa.
A mulher de jeito brejeiro e cabelos levemente ondulados mordeu o lábio superior e levantou-se. Colocou a calcinha, o soutien, a blusinha amarela que Jonas havia lhe dado alguns meses antes e a calça jeans. Tornou-se a sentar e colocou as sandálias nos pés com delicadeza e rapidez. Jonas havia pago o quarto, segurou sua mão e entraram no carro. Ele roçava os dedos levemente nas mãos dela. Lorena permaneceu calada durante todo o trajeto até sua casa, limitava-se a roçar devagarinho a ponta dos dedos na mão de Jonas.
- Quando nos vemos de novo? - Perguntou Lorena olhando para os próprios pés sem abrir a porta.
- Não sei. - Jonas dobrava os lábios na boca, fugindo o olhar e esboçando um sorriso sem graça.
- Adorei hoje, de verdade. Adoro estar com você. - A moça segurou um pouco mais forte na mão de Jonas.
- Eu sei, Lorena. Também gosto de estar com você.
- Sabe, se gostasse mesmo namoraria comigo. Você sempre fica muito estranho, com pressa em ir embora. - Antes que Jonas pudesse falar algo ela o beijou e saiu do carro. Não olhou para trás, abriu o portão de casa e entrou. Jonas deu a partida no carro e saiu pensando nela. "Eu gostaria de acordar ao seu lado, Lorena."

.: o amanhã :.


Sentado em sua cama semi enrolado no edredon listrado, Jonas olhava fixamente para a parede. Queria colocar algo ali. Um quadro, talvez? Ou um adesivo com grafismos modernos. Talvez uma foto de família ou um espelho. O vazio o incomodava.
Jonas coça os olhos e boceja. As vezes lembra de quando conseguia acordar muito cedo- e dormir mais cedo ainda - e o quanto o volume de trabalho, o computador e a prorrogação que ele mesmo se impõe da hora do sono, fizeram aparecer várias rugas e uma olheira que insiste em não diminuir.
Jonas não era vaidoso, longe disso. Sua única obsessão era com os cabelos, se estavam penteados e bem cortados. Com a chegada dos trinta anos e a inevitável queda dos cabelos chegando, Jonas se preocupou um pouco (na verdade muito), mas relaxou quando percebeu que não ficaria careca. O volume diminuíra, mas ainda estava com o velho topete que o acompanhava desde bebê.
Levantou e arrastou-se pela beirada da cama tendo o cuidado de pisar primeiro com o pé direito. Sempre o pé direito. Para começar bem o dia. É um dos vários tocs que ele acumulou durante a vida, mas que não o incomodavam de viver. O outro era não deixar o chinelo virado. "Se não desvirar a mãe morre". E, desesperado, nunca o deixou dormir emborcado, virando instantaneamente.
Espreguiçou-se. Andou até o banheiro e viu o homem que se tornara. Estava longe de ser um galã, ou como dizia brincando "far far away". Mas estava satisfeito com o que via. Podia não ser belo, mas era sincero, leal e altruísta. Acima de tudo, Jonas acreditava no amanhã.

domingo, dezembro 13, 2009

o rumo da vida


Final de novembro consegui tirar alguns dias de férias. Notícia boa, principalmente para quem está acostumado a um ritmo tão grande de trabalho que já começa a ser chamado de workaholic pelos colegas de trabalho.
Sinceramente, hoje, o trabalho é minha vida. Ele me preenche por inteiro, não deixa minha cabeça vazia pensando besteira, me faz sentir útil e me deixa muito satisfeito com os resultados alcançados.
Sei que tem me afastado um pouco das pessoas, pois vivo furando saídas, não podendo estar presente em alguns eventos e até em datas importantes. Não sei se entendem, mas enfim, é uma escolha que fiz para poder no futuro tentar ter alguma estabilidade. Mas existe uma coisa boa nisso, eu passei a conseguir enxergar quem são os meus verdadeiros amigos. Aqueles que mesmo eu furando continuam me ligando para que eu saia com eles. Aqueles que mesmo eu sendo ríspido quando não posso atender uma ligação entendem e perguntam se está tudo bem. Normalmente eu respondo com um "agora está", e as vezes fico me perguntando se não deveria pedir desculpas por essa ausência.
Ontem mesmo conversando com minha Comadre perguntei o que ela queria que eu desse de presente para meus afilhados no Natal. Acho legal perguntar do que encher a criança de brinquedo podendo dar algo mais útil que eles estejam precisando e tirando esse ônus dos pais. Ela disse que pro J.A. eu desse uma toalha de banho (temática de super herói, óbvio), mas para o Petrus não precisava nada, ele não estava precisando de nada e ainda era muito pequenininho (o afilhado loiro tem 3 meses). Eu falei que queria dar algo, principalmente que com ele sou mais ausente do que fui com o J.A., que pegou o Dindão numa fase light. Mas tenho que me policiar, pois não devo querer preencher com coisas materiais minha ausência.
Foram somente dez dias de férias, ao lado de um amigo querido em que tive o prazer de apresentar meu Ceará. Me reaproximei de um amigo querido, que andava um pouco sumido e conheci um casal de paulistas muito bacanas. Amizade de férias viram verdadeiras? Espero que sim.
Foram dez dias bem intensos, com viagens e saídas e me perguntei várias vezes o porque pareceu tão pouco. Fiquei achando que eu vivi pouco esses dez dias. Preciso de mais? Certeza, mas não sei se terei outra oportunidade tão cedo. Quero voltar à Duna de Jeri, fazer uma oração no pôr-do-sol e pedir a Deus que continue me guiando pelo caminho do bem e me protegendo de todos os males. Sentir o calor do astro-rei tocar minha pele e me envolver na energia maravilhosa que ele emana.
Bruno, querido, obrigado pela companhia fantástica e desculpe qualquer coisa desse velho coração asgardiano.

foto: pôr-do-sol na duna de Jeri, por mim mesmo.

domingo, dezembro 06, 2009

.: a despedida :.


- Eu tenho algumas palavras sobre Jonas. - A moça loira apoiou-se no púlpito com as mãos levemente trêmulas. A multidão que lotava o recinto a olhava atentamente. - Eu poderia falar dos inúmeros bons momentos, de suas qualidades e do quanto sou agradecida por tê-lo conhecido. Mas estranhamente eu não vou. Tenho um segredo de Jonas para partilhar e me perguntei várias vezes no caminho se eu teria o direito de revelá-lo, pois tenho quase certeza que ele não sabia que eu tinha conhecimento do que ele mais escondia.
O silêncio deu lugar ao burburinho. "Que segredo era esse?" As pessoas se perguntavam o que a moça loira de grandes olhos verdes fazia ali na frente. Poderia ser insanidade ou simplesmente negação?
Jonas estava morto. Não era hora de honrá-lo? A moça loira permanecia calada segurando o púlpito com mais firmeza. As pessoas foram calando até que o borburinho cessou. Ela pigarreou limpando a garganta, em busca que sua voz não falhasse.
- Primeiramente eu gostaria de dizer que hoje é manhã de Natal. E por mais religiosa que eu seja e considere minha fé em Deus inabalável eu gostaria de dizer, e para isso eu peço licença so Sr. Padre aqui presente, que é de muito mau gosto alguém que amamos tanto partir na véspera de Natal. Se Deus pode me escutar agora, eu gostaria de pedir para que existisse uma lei universal para que as pessoas queridas não partissem nessa data. - Ouve-se um longo silêncio e algumas palmas começaram tímidas na multidão até tornarem-se fortes. Sim, todas as pessoas presentes achavam de mau gosto que no Natal existisse um momento triste.
- Segundo eu queria pedir perdão ao meu amado Jonas pelo que vou dizer agora. Somos amigos há muito tempo e juntos comemoramos esse ano seus 40 anos onde ele me confidenciou que seu maior medo era a solidão. Bem, uma pessoa que no dia de Natal consegue juntar tanta gente para sua despedida não poderia se sentir sozinha. Mas ele sentia a solidão, embora houvesse um grande mundo em sua volta. - Natalie fitou alguns amigos na primeira fila. Estavam olhando para ela com certa apreensão, mas não levantaram-se para impedí-la. As pessoas têm o direito de honrar os mortos em suas despedidas. - Eu sei quem Jonas era na verdade e tenho quase certeza de que ele não fazia idéia de que eu sabia.
O silêncio era quase sepulcral. Nem mergulhado na água, como Jonas gostava de ficar, o silêncio poderia ser tão denso. Embora o silêncio traga paz, naquele momento ele parecia cortante como uma navalha. Havia tensão e expectativa no que Natalie iria dizer.
- Jonas era na verdade um super-herói. E hoje estou com muita raiva dele porque ele não se levanta e ressuscita como os heróis fazem. - As pessoas começaram a chorar enquanto as lágrimas corriam fartas no rosto alvo de Natalie. - Não é justo que eu espere ele se levantar e sorrir para mim antes de me dar um abraço caloroso, daqueles em que eu me sentia extremamente protegida. Eu não sei se ele vai levantar pois eu nunca o vi de capa vermelha querendo singrar os céus de nossa cidade. Mas ele estava sempre perto com seu sorriso iluminado, suas palavras de conforto e suas ações capazes de tudo para nos ajudar. Jonas tomava o problema que você tinha, seja qualquer que fosse, e o resolvia de modo com que nos sentíssemos protegidos. Um leão. Um amigo que eu nunca vou esquecer e, juro, não vou deixar que esqueçam. Jonas era nosso Super-Homem particular e eu confesso que não sei como vou continuar a viver minha vida sem saber que não há alguém velando por nós.
Natalie sentou ao chão e levou as duas mãos ao rosto em um choro copioso. Seus amigos próximos, marido e filhos foram abraçá-la em prantos. O padre pegou o microfone suavemente e falou algumas palavras que não surtiriam efeito depois de um discurso tão sincero. O filho mais velho de Natalie andou calmamente até o padre e, com a autoridade e o respeito de seus 12 anos pediu o microfone.
- Eu gostaria de desejar a todas as pessoas presentes um Feliz Natal. Tenho certeza que todo mundo aqui levará um pedacinho do tio Jonas para casa, então eu não acho que ele morreu. Agora eu acho que todos nós poderemos fazer algo diferente com o que ele nos ensinou. Obrigado.
As pessoas aplaudiram o menino de olhos claros como a mãe com itensidade. Para Jonas, e agora para todos os presentes na sua despedida, a verdadeira mudança começa a partir de nós mesmos.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

"Não sei ...se a vida é curta
ou longa demais para nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas."
[Cora Coralina]

.: fechando os olhos :.


Quando comia algo que gostava Jonas costumava fechar os olhos. Sua irmã, quando criança, fazia caras e bocas imitando-o. Ele passou a se policiar, mas parecia impossível, sempre fechava os olhos. Um dia estava na casa de sua namorada e sua sogra o chamou para experimentar um bolo que havia feito.
A senhora cortou uma fatia generosa e colocou-a gentilmente no prato a sua frente. Jonas pensou consigo mesmo que não iria fechar os olhos. Segurou o garfo pressionando levemente os dedos e repetiu como um mantra "não fecharei os olhos" para si mesmo, repetidas vezes, enquanto cortava com o garfo uma lasca do bolo, juntava o creme da cobertura e o levava a boca.
- Que lindo. - Exclamou sua sogra enquanto levava as duas mãos ao queixo. - Você fecha os olhos quando come.
Jonas praguejou algumas vezes e sorriu sem graça. Tentou dizer que não fechava não, que era impressão dela e deve ter corado um pouco. Riu desconcertado, partiu novamente um pedaço de bolo com o garfo e juntou um pouquinho mais de creme da cobertura e o levou a boca repetindo o mantra de que não fecharia os olhos.
- Você fechou de novo. - sua sogra exclamava com uma risada.
-Devo realmente ter fechado. - Jonas sorriu desconcertado e consentiu que deve ter fechado os olhos.
- Meu pai fechava os olhos - ela disse segurando de leve sua mão. - E minha mãe dizia que achava lindo, pois ele realmente transmitia que gostava da comida dela.
- Realmente, esse bolo está divino. - E novamente com o garfo juntou um pouco de creme e o levou a boca sem a preocupação se fecharia ou não os olhos.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Uma vez li uma reportagem com a Sandra Bullock em que ela dizia que coisas boas acontecem para pessoas boas.

É verdade, viu?