domingo, dezembro 06, 2009

.: a despedida :.


- Eu tenho algumas palavras sobre Jonas. - A moça loira apoiou-se no púlpito com as mãos levemente trêmulas. A multidão que lotava o recinto a olhava atentamente. - Eu poderia falar dos inúmeros bons momentos, de suas qualidades e do quanto sou agradecida por tê-lo conhecido. Mas estranhamente eu não vou. Tenho um segredo de Jonas para partilhar e me perguntei várias vezes no caminho se eu teria o direito de revelá-lo, pois tenho quase certeza que ele não sabia que eu tinha conhecimento do que ele mais escondia.
O silêncio deu lugar ao burburinho. "Que segredo era esse?" As pessoas se perguntavam o que a moça loira de grandes olhos verdes fazia ali na frente. Poderia ser insanidade ou simplesmente negação?
Jonas estava morto. Não era hora de honrá-lo? A moça loira permanecia calada segurando o púlpito com mais firmeza. As pessoas foram calando até que o borburinho cessou. Ela pigarreou limpando a garganta, em busca que sua voz não falhasse.
- Primeiramente eu gostaria de dizer que hoje é manhã de Natal. E por mais religiosa que eu seja e considere minha fé em Deus inabalável eu gostaria de dizer, e para isso eu peço licença so Sr. Padre aqui presente, que é de muito mau gosto alguém que amamos tanto partir na véspera de Natal. Se Deus pode me escutar agora, eu gostaria de pedir para que existisse uma lei universal para que as pessoas queridas não partissem nessa data. - Ouve-se um longo silêncio e algumas palmas começaram tímidas na multidão até tornarem-se fortes. Sim, todas as pessoas presentes achavam de mau gosto que no Natal existisse um momento triste.
- Segundo eu queria pedir perdão ao meu amado Jonas pelo que vou dizer agora. Somos amigos há muito tempo e juntos comemoramos esse ano seus 40 anos onde ele me confidenciou que seu maior medo era a solidão. Bem, uma pessoa que no dia de Natal consegue juntar tanta gente para sua despedida não poderia se sentir sozinha. Mas ele sentia a solidão, embora houvesse um grande mundo em sua volta. - Natalie fitou alguns amigos na primeira fila. Estavam olhando para ela com certa apreensão, mas não levantaram-se para impedí-la. As pessoas têm o direito de honrar os mortos em suas despedidas. - Eu sei quem Jonas era na verdade e tenho quase certeza de que ele não fazia idéia de que eu sabia.
O silêncio era quase sepulcral. Nem mergulhado na água, como Jonas gostava de ficar, o silêncio poderia ser tão denso. Embora o silêncio traga paz, naquele momento ele parecia cortante como uma navalha. Havia tensão e expectativa no que Natalie iria dizer.
- Jonas era na verdade um super-herói. E hoje estou com muita raiva dele porque ele não se levanta e ressuscita como os heróis fazem. - As pessoas começaram a chorar enquanto as lágrimas corriam fartas no rosto alvo de Natalie. - Não é justo que eu espere ele se levantar e sorrir para mim antes de me dar um abraço caloroso, daqueles em que eu me sentia extremamente protegida. Eu não sei se ele vai levantar pois eu nunca o vi de capa vermelha querendo singrar os céus de nossa cidade. Mas ele estava sempre perto com seu sorriso iluminado, suas palavras de conforto e suas ações capazes de tudo para nos ajudar. Jonas tomava o problema que você tinha, seja qualquer que fosse, e o resolvia de modo com que nos sentíssemos protegidos. Um leão. Um amigo que eu nunca vou esquecer e, juro, não vou deixar que esqueçam. Jonas era nosso Super-Homem particular e eu confesso que não sei como vou continuar a viver minha vida sem saber que não há alguém velando por nós.
Natalie sentou ao chão e levou as duas mãos ao rosto em um choro copioso. Seus amigos próximos, marido e filhos foram abraçá-la em prantos. O padre pegou o microfone suavemente e falou algumas palavras que não surtiriam efeito depois de um discurso tão sincero. O filho mais velho de Natalie andou calmamente até o padre e, com a autoridade e o respeito de seus 12 anos pediu o microfone.
- Eu gostaria de desejar a todas as pessoas presentes um Feliz Natal. Tenho certeza que todo mundo aqui levará um pedacinho do tio Jonas para casa, então eu não acho que ele morreu. Agora eu acho que todos nós poderemos fazer algo diferente com o que ele nos ensinou. Obrigado.
As pessoas aplaudiram o menino de olhos claros como a mãe com itensidade. Para Jonas, e agora para todos os presentes na sua despedida, a verdadeira mudança começa a partir de nós mesmos.

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