domingo, novembro 29, 2009

"Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho. E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venha com meios-termos,com mais ou menos ou qualquer coisa.Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...
Eu acredito é em suspiros,mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,em alegrias explosivas, em olhares faiscantes,em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma, no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos.
São eles que me dão a dimensão do que sou."
[Maria de Queiroz]

sábado, novembro 28, 2009

"É preciso ter um caos dentro de si para gerar uma estrela."
[Nietzche]

sexta-feira, novembro 20, 2009

"Que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu."
[Voltaire]

quarta-feira, novembro 18, 2009

.: a piscina :.


Fazia pouco mais de cinco minutos que Jonas estava com os pés mergulhados na piscina. Passava da meia noite de 31 de dezembro e ele não entendia o porque as pessoas achavam aquilo relaxante, sentia parte de sua perna molhada e a outra parte seca.
Jonas gostava mesmo de ficar submerso, com a água entrando em seus ouvidos e "ouvindo" o silêncio. A sensação de paz era grande e muitas vezes ele queria poder ser o Aquaman para respirar embaixo d'água e ficar ali para sempre.
A água era uma constante na vida de Jonas. Bebia litros por dia, adorava ficar embaixo do chuveiro, brincando com as ondas no mar e submerso na piscina.
Alguns fogos ainda estouravam tardiamente, as pessoas a sua volta bebiam e conversavam. Alguns ficavam parados olhando para o céu, contemplando-o. De repente Jonas salta e decide testar o fôlego mergulhado, tinha tomado algumas taças de vinho e de champagne para a hora do brinde. No fundo da piscina está o silêncio absoluto, não há o barulho dos fogos estourando, nem da risadaria das pessoas, apenas ouve-se muito ao longe a música alta, quase imperceptível. Ouvindo um leve estrondo Jonas abre os olhos que ardem um pouco por conta do cloro. Seu primo estava ao seu lado. "Ta se afogando?"
Jonas riu. "Não, estou fugindo". O menino sardento e riso aberto riu e perguntou de que ele estava fugindo. "Do mundo". Respondeu Jonas. Ficaram os dois mergulhados na piscina por horas, até os dedos ficarem engilhados, com a ausência de som, ouvindo o silêncio.

terça-feira, novembro 17, 2009

"Desistir não é nobre. E arduamente, não desistimos."
[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, novembro 16, 2009

.: divagações na chuva :.

O caminho para o trabalho era até fácil. Normalmente não passava mais de quinze minutos no trânsito, mesmo engarrafado. Aquela segunda-feira era diferente, já fazia mais de vinte minutos que estava praticamente parado em uma das principais vias da cidade. Ficava divagando que se tivesse perto da orla poderia ficar vendo o mar. O vai e vem das ondas, os barcos de pesca, os meninos jogando futebol na areia... essas simples visões do cotidiano lhe acalmavam. Muitas vezes pensava em quando era criança e queria ter aproveitado mais por morar tão perto da praia. Poderia ter aprendido a surfar, mas achava meio ridículo tentar isso com seus agora trinta anos.
O dia estava cinzento e de repente as gotas começaram a cair no vidro do carro. Ele pensou em praguejar, pois havia tirado o carro há menos de uma semana da concessionária e gostava do cheiro de carro novo. Tinha medo que a chuva fizesse o cheiro sair mais rápido.
Olhou de relance para o pegeout prata estacionado ao seu lado. A mulher loira, também na faixa dos trinta anos, apaga o cigarro com pressa e o joga pela janela. A chuva começa a engrossar e a mulher liga o limpa vidro fazendo ar de impaciência. Jonas aproveita o carro parado para ficar olhando as gotas de chuvas correrem irriquietas pelo vidro. Quando aciona o limpador esboça um leve sorriso achando que as gotas parecem fugir, querendo permanecer na superfície lisa.
Jonas também havia passado muitos anos da sua vida assim, fugindo do que o magoava, não encarando de forma direta o que o fazia se sentir triste e melancólico. Fazia pouco mais de dois anos que quisera começar a encarar e resolver seus dilemas. Exorcizar seus próprios demônios, ele dizia. Estava longe de ser o rapaz alegre da adolescência e do início de sua vida adulta, mas agora ele não fugia mais como as gotas de chuva no painel do carro.
O trânsito voltava a andar, de longe viu dois homens empurrando um velho corcel bege para o estacionamento de uma loja. A mulher do pegeout prata ficou para trás, limpando com rapidez a chuva que caia forte.

domingo, novembro 15, 2009

.: os desejos ao nascer do sol :.


Fazia dias que ele acordava cedo para ver o sol nascer. Não que tivesse uma vista fantástica de sua varanda, mas da janela do seu quarto podia ver uma fresta da bola incandescente que iluminava a escuridão pouco a pouco.
Pedia em uma pequena prece a Deus para aquele ser um dia mágico. Queria encontrar o amor da sua vida, esbarrando sem querer em uma esquina. Ela sorriria para ele e ele arriscaria convidá-la para um café. Ganharia um aumento. Seu esforço enfim seria reconhecido e teria um aumento no salário. Não tão grande, mas também não tão pequeno. Um na quantia certa, que não se achasse demais por estar ganhando tanto dinheiro e que pudesse pagar suas contas e desejos com alguma folga. Também queria pedir para sair cedo do trabalho e caminhar na orla quando o sol se punha. Fazia anos que não fazia aquilo, tinha medo de sentar na areia e ser assaltado e levarem o celular, máquina e a correntinha de ouro de estimação que ganhou de sua tia mais velha quando nasceu.
Então o sol nascia como nos outros dias e Jonas o fitava com sua prece. Em seu íntimo ele sabia que nenhuma daquelas preces se realizaria. Estaria assoberbado de trabalho, como sempre, e esqueceria de sua vida pessoal. Esquecera o quanto era ruim caminhar na orla ao entardecer, como o vai e vem de pessoas que lhe tiravam a visão do mar e o deixavam neurótico com sua segurança.
Sim, aquele seria apenas um dia como todos os outros tem sido em sua vida. Sem surpresas. Sem realizações. Sem mágica.

quinta-feira, novembro 12, 2009


“Contos de fadas não dizem às crianças que dragões existem. As crianças já sabem que dragões existem. Contos de fadas dizem às crianças que dragões podem ser mortos.”
[G. K. Chesterton]

quarta-feira, novembro 11, 2009

Quertzacoalt meets Asgard's Kingdon.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Palavra nova

Essa semana aprendi uma palavra nova: "edutenimento".

Ela alia educação com entretenimento.

Alguém me mata? Alguém tem uma faca?

alguém?


quinta-feira, novembro 05, 2009

A culpa é do cartório, seu dotô

Esses dias recebi um ofício em minha mesa e assim que pus os olhos liguei para o remetente.

"Sheila?"
"Oi. Recebeu meu ofício?"
"Recebi. Quem assinou?"
"Fui eu."
"Foi você? Tem certeza?"
"Tenho sim."
"Me diz como é que você assina um documento sem ler!"
"Sem ler? Como assim, fui eu que redigi!"
"Aqui ta escrito C-H-E-I-L-A. Com 'C' !"
"É com 'C' mesmo... é que eu tenho vergonha e coloco com 'S', mas como era documento oficial eu coloquei como na identidade..."
E nessa hora rezei pro chão abrir. Ou o 'shão'.
Mas não abriu.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Icarus


Tem dias que eu queria sentar na ponta. Na beiradinha mesmo. Do precipício, de um prédio, de um abismo, mas eu preciso mesmo era sentar na beirada da minha vida. Sentar na beirada não é necessariamente cair, é se jogar. Abrir os braços e sentir que é livre. Despencar pelo céu como Ícaro. Desejar não voar.
Encarar a realidade de frente, mas com a frieza racional de quem não está vivendo a própria vida. As vezes é tão mais fácil ajudar o outro do que a si mesmo (pelo menos para quem não é egoísta), vendo de fora, com o olhar de um mero observador.
Então uma hora, contra tudo, e todos, você tem que olhar o abismo para ele olhar de volta para você. Existe um momento nessa troca de olhares em que você finalmente compreende o entendimento. É como um estalo. Sabe quando você ouve dizer que no momento da sua morte a sua vida passa diante dos seus olhos? De repente as dúvidas fazem sentido e deixam de ser dúvidas, pois passam a ser compreendidas. Você as observa e as entende.
Infelizmente isso só ocorre no momento do salto. É preciso arriscar demais?

terça-feira, novembro 03, 2009

a lei do uso


Não sou advogado, sou publicitário. O que entendo da lei do uso é do uso que fazemos das coisas. Não é o uso simples e eficaz de se usar um martelo, por exemplo. Nem o de usar uma idéia (coisa que no meu ramo a gente chama de chupada), ou uma frase. O que entendo da lei do uso é o uso que fazemos das pessoas e, sim, o que elas fazem de nós.
Todos nós usamos e somos usados o tempo todo. Usamos nossa mãe quando pedimos um copo d'água ou fazermos charminho pra ganhar algo (usamos ela tb durante nove meses, é verdade). E nossa mãe nos usa, quando pede para você fazer as compras ou dirigir pra ela. Todos somos usados e usamos o tempo todo. Eu uso o fornecedor que executa um trabalho para mim e ele me usa como forma de obter lucro. É uma forma de uso.
Os amigos se usam o tempo todo. Te usam quando pedem uma carona, um favor, um colo. São usados quando pedimos força, uma saída que eles não querem fazer, um abraço.
O ruim da lei do uso é quando as pessoas não aceitam que vão ser usadas de volta. Quando nós, ou eles (quem sabe?), acham que amizade não é dar nada em troca. Quando fecham em seu mundinho e só abrem quando precisam de você. Você se torna um veículo para que eles obtenham o desejado e eles se tornam, apenas para você, uma barreira. Um muro intransponível que parece incapaz de lhe acolher de volta. De lhe abraçar na hora que vc precisa desse uso.
E o que mais falta nesse mundo de hoje são pessoas capazes de pensar no outro, tanto quanto pensam em si próprio. Narcisistas de umbigo.

"O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio." [Khalil Gibran]