segunda-feira, novembro 16, 2009

.: divagações na chuva :.

O caminho para o trabalho era até fácil. Normalmente não passava mais de quinze minutos no trânsito, mesmo engarrafado. Aquela segunda-feira era diferente, já fazia mais de vinte minutos que estava praticamente parado em uma das principais vias da cidade. Ficava divagando que se tivesse perto da orla poderia ficar vendo o mar. O vai e vem das ondas, os barcos de pesca, os meninos jogando futebol na areia... essas simples visões do cotidiano lhe acalmavam. Muitas vezes pensava em quando era criança e queria ter aproveitado mais por morar tão perto da praia. Poderia ter aprendido a surfar, mas achava meio ridículo tentar isso com seus agora trinta anos.
O dia estava cinzento e de repente as gotas começaram a cair no vidro do carro. Ele pensou em praguejar, pois havia tirado o carro há menos de uma semana da concessionária e gostava do cheiro de carro novo. Tinha medo que a chuva fizesse o cheiro sair mais rápido.
Olhou de relance para o pegeout prata estacionado ao seu lado. A mulher loira, também na faixa dos trinta anos, apaga o cigarro com pressa e o joga pela janela. A chuva começa a engrossar e a mulher liga o limpa vidro fazendo ar de impaciência. Jonas aproveita o carro parado para ficar olhando as gotas de chuvas correrem irriquietas pelo vidro. Quando aciona o limpador esboça um leve sorriso achando que as gotas parecem fugir, querendo permanecer na superfície lisa.
Jonas também havia passado muitos anos da sua vida assim, fugindo do que o magoava, não encarando de forma direta o que o fazia se sentir triste e melancólico. Fazia pouco mais de dois anos que quisera começar a encarar e resolver seus dilemas. Exorcizar seus próprios demônios, ele dizia. Estava longe de ser o rapaz alegre da adolescência e do início de sua vida adulta, mas agora ele não fugia mais como as gotas de chuva no painel do carro.
O trânsito voltava a andar, de longe viu dois homens empurrando um velho corcel bege para o estacionamento de uma loja. A mulher do pegeout prata ficou para trás, limpando com rapidez a chuva que caia forte.

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