sexta-feira, agosto 25, 2006



Roteiro de Mulher-Maravilha está nas mãos da Warner Bros

Descaradamente roubado do Omelete, mas maravilhosamente comentando como um wonder fã!

Joss Whedon desencantou! O criador de Buffy A caça-vampiros, Angel, Firefly e atual roteirista de Surpreendentes X-Men mandou finalmente o roteiro do filme da Mulher-Maravilha para a Warner Bros.!
O cineasta informou a novidade em seu blog oficial e avisa: A WB já leu o texto e o chamou para uma reunião.

"Os Irmãos Warner já LERAM a Gata Maravilha e estão marcando um encontro comigo para dizer que tudo está perfeito, uma verdadeira pedra preciosa já lapidada e que não vão mudar uma palavra sequer, nem uma sílaba. Tenho certeza de que será assim", escreveu. Mais otimista, impossível. Obviamente, ele sabe que dificilmente será assim... mas não custa sonhar.
Whedon prometeu ainda outras novidades para breve.

O filme, produzido por Joel Silver (V de Vingança, Matrix), mostrará Steve Trevor, um piloto da força aérea dos EUA, caindo na Ilha Paraíso e entrando em contato com a cultura amazona. Ao retornar ao mundo dos homens, levará uma emissária, a jovem e curiosa princesa Diana, a Mulher-Maravilha.
Por Érico Borgo25/8/2006

*Eu até fiquei feliz, sabia? Parece-me que o Whedon que buscar uma Mulher-Maravilha do Pérez. eue spero, realmente que siga a linha de Batman e super-Homem, com ação e uma maravilhosa princesa amazona. Também espero ver os deuses do Olimpo, mas vamos esperar sair de quantos erá o orçamento. Efeitos especiais em filmes com restrições orçamentárias é foda!
Ele chamá-la de Gata Maravilha me deixou preocupado :/

quinta-feira, agosto 24, 2006


O Cabaré da TV

Eu sempre odiei quando meu tio ficava em frente a TV na casa de praia na hora da novela das 8 e dizia "Começou o Cabaré da Globo". Eu odiava ainda mais quando minha mãe passou a recitar aquilo como um mantra também, mas adorava assistir o folhetim, embora ela achasse que fosse o maior cabaré.
Mas eu venho aqui dar razão à eles. Isso mesmo, me rendi. Esqueçam a trama do Manoel Carlos, A Helena sem sal da Regina Duarte e todo aquele blá blá blá enfadonho de amor verdadeiro, mas que as pessoas passam a trama inteira corneando umas às outras. Hoje, especialmente, eu fiquei muito triste com uma das minhas séries preferidas.
Normalmente o protagonista é o "herói" ou "heroína" da história. Seus amores, seus dramas, seus sonhos e suas vitórias preenchem em nós um vazio que temos e nos deliciamos em viver a vida desse outro sempr em torcida pela felicidade. Como heróis, possuem boa índole, são corajosos e tem caráter. Como diz a Glória Perez "a mocinha tem que sofrer até o final para que o espectador sofra com ela e torça por ela". Bem, depois de hoje eu não torço mais por Meredith Grey.
Podem me chamar de moralista, visionário e até mesmo de inocente. Podem até tentar me provar que ela no fundo é uma apaixonada e o grande vilão da história é o Dr. Shepherd (se não me engano a tradução melhor seria "pastor", mas posso estar enganado e a preguiça não me faz ir ver no dicionário). "Oh nossa, o Dr. Derek Shepherd com seu olhar lascivo seduziu a boa e inocente Meredith Grey"! Balela, de boa e inocente Meredith não tem nada.
Não vou lembrar do que ela fez com George para poupar um pouco o falatório. Vou me ater exclusivamente ao season finale. Considerando alguns fatos:
- Meredith estava saindo com o McVet.
- Meredith e Dr. Shepherd "dividiam" um cão, o McDog (que morreu, o bichim).
- Meredith e Addison tinham cessado as animosidades e estavam se rspeitando como mulheres e profissionais. Muito mais da Addison, a SRA. Shepherd!
Entendo que o McVet fosse uma chance de esquecer o McSonho. Afinal, que ser-humano resisitira a um afago quando não se está bem? Nossa, Meredith não ter desencanado do Mc Sonho, entendo demais! Afinal a própria esposa disse "somente os dois não percebem que continuam apaixonados um pelo outro".
O que não me conformo é de Meredith ter dado a maior lição de moral pro Chefe, esclarecendo que ela sabia do caso que ele tivera com a mãe dela quando ela ainda era criança e que culminou na separação dos pais dela. Divórcio esse que transformou Meredith na mulher que é hoje, cheia de neuras por causa do pai, que ela pensava ter abandonado a família, justamente porque o que sua mãe fez a vida inteira foi mentir. Então ela diz pro chefe que ele ficou com a esposa porque achava que era o correto. Fora que a própria esposa, Adelle, demonstra que ela soube do caso que ele teve com a mãe de Meredith e que assim mesmo se calou e deu suporte para ele ser o profissional que é hoje porque o amava e fez o que achava correto pela família.
O próprio Shepherd tem essa atitude honrada em terminar o relacionamento com Meredith, e tentar reconstruir seu casamento com a ruiva tudo de bom Addison. Se não desse mesmo voltar com a esposa, esquecer o chifre ele pdoeria acabar tudo e estar livre para começar um novo relacionamento com quem quer que fosse.
Depois desse discurso de Meredith, ela ganha de presente uma chance de recomeço com o McVet. Então o que a "heroína" faz? Meredith Grey trepa com o Shepherd. É, trepa mesmo, currada em um leito de hospital, praticamente a vista de todos (foi encontrada pela grotesca Callie do George), ela deixou o McVet sozinho, porque não pode conter o impulso animal de se esfregar no Derek.
Que pena que antes os mocinhos e mocinhas dos filmes e novelas tinham mais integridade, respeito e atitude para si (principalmente) e para o próximo. Meredith Grey não é um exemplo que se deva espelhar e nem de sentir pena, pois ela sabe o que é certo e errado e não está nem aí para isso ("eu estava usando uma calcinha preta, você viu ela por aí?"). Não posso aceitar que a personagem principal de Greys Anatomy seja um exemplo a ser seguida e um modelo de mulher atual, de novo milênio. Até posso, mas não devo, seria transformar o feminino em descartável. Seria, mais ainda, igualar a mulher à patética condição masculina de se liberar o animal dentro de si, escravo do sexo, enquanto sempre foram senhoras supremas da integridade. Realmente, virou um Cabaré.

terça-feira, agosto 22, 2006


Avós.

O post de hoje eu escrevo com o coração na mão. Não sei se todo mundo sabe, mas minha avó matena mora conosco, é dona de um bom humor extraordinário, cheia de piadas e de vida pros seus 92 anos tão cheios de complicações cardiácas e diabetes.
Mas antes de falar da minha avó materna, eu tenho que falar da paterna. A vovó Zilda era aquelas avós de conto-de-fada, tipo a dona Benta do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Eu adorava visitá-la, ela fazia os meus gostos, deixava eu dar comida pras galinhas quantas vezes quisesse, e mesmo muito humilde sempre tinha coca-cola na geladeira pra mim. Era uma daquelas geladeiras antigas meio ovaladas, com uma maçaneta tipo a de frigorífico e eu achava o máximo. Pena que quando ela morreu eu não me atentei, ma queria ter ficado com aquela geladeira pra mandar fazer um armário legal.
Vovó Zilda criou os filhos sozinha, pois tinha ficado viúva duas vezes. Era muito religiosa e diziam que ela educava com a mão de ferro, os filhos dela eram considerados sempre bem educados e de boa índole. Tenho certeza que a base moral que meu pai possuía era por ser filho dela. Eram muito humildes, nem carro tinham, uma casinha simples no Jacarecanga que até hoje sinto o cheirinho de lá quando lembro da vovó. Uma das coisas que ajudaram a morte prematura do meu pai foi ter visto minha avó doente, sem poder fazer nada. Papai ainda se foi três meses antes da vovó, e até hoje eu não sei de onde tirei forças pra suportar tantas perdas importantes na minha vida em tempo tão curto.
Eu nunca gostei de ir pra casa de meus avós maternos. Vovó Maria, apesar de ser engraçada, nunca foi de carinhar neto e imaginem comigo, o capeta em forma de guri! Mas há três anos, quase quatro, vovó Maria veio morar conosco devido à complicações com sua saúde. A casa ficou mais leve com a presença dela, cheia de ditados, cantigas e a língua bem ferina. Mas muito independente, com aquele jeito dela de não adular ninguém ou fazer carinho.
Esse ano devido à diabetes minha avó se submeteu a uma cirurgia de catarata, chegou em casa com o tampão, mas em poucas horas estava enxergando tudo. A gente brincava dizendo que agora ninguém segurava ela com a vista apurada e a língua afiada. Infelizmente três dias depois ela teve uma inflamação e hoje, duas cirurgias depois, o médico não pode dar certeza se ela volta a enxergar.
Talvez por sorte, a memória fraca dela ainda não caiu a ficha de que está cega. Às vezes ela reclama que o óculos tá ruim ou pede pra acender a luz, damos alguma desculpa de que a lâmpada queimou e vamos levando dessa forma, pra que ela não perceba que não enxerga. Às vezes é preciso ser mestre em mentira para dar tantas desculpas seguidas, mas a gente consegue, criatividade parece ser herança.
Mas tem dias como hoje, em que ela perde a noção de tempo e lugar. Que ela fica deitada na rede já perto da hora de dormir e chama pela gente, principalmente por mim, que ela considera o homem da casa. Eu não consigo fingir que não escuto e mesmo que repita dez vezes alguma desculpa e até brigue um pouco pra ela entender que estou falando sério, eu volto várias vezes ao seu quarto. Ela às vezes pensa que não está no quarto e diz que não quer dormir no lado de fora, que tem medo. E ela segura forte a minha mão e começa a chorar e pede pra eu ficar lá. Eu fico com os olhos cheios d'água vendo-a tão fragilizada assim, mas digo que ela está no quarto e pergunto se ela acha que vamos ter coragem de deixá-la em uma varanda, mas ela pede pra gente jurar que ela tá no quarto. "Eu juro vovó, tem cabimento uma coisa dessa?", mas ela segura na mão da gente e aí se dá conta que não enxerga e fica chorando dizendo que tem medo.
Quando foi decidio no conselho da família Machado que o melhor seria a vovó morar conosco eu fiquei com muito medo. Mas medo mesmo, de conviver mais com ela e de repente ela morrer e eu sofrer, sabe? Olha só que egoísmo! E hoje eu penso que é ao contrário, que sou o mais abençoado dos meus primos por poder ter essa dádiva. De que ela é tão frágil em sua saúde, que pode morrer hoje à noite ou daqui há anos, mas que eu vou sofrer muito eu vou. Muito mais do que se ela não morasse conosco, mas fico pensando em como tive essa graça na minha vida.
Então quando a vovó chora, aperta minha mão, pede pra eu jurar que ela está no quarto e que vou ficar lá perto, eu sinto que aprendi tanto em tão pouco tempo com ela. Que deixei de ser mesquinho e ligar para bobagens e que agora nesses últimos anos de vida dela pude conhecer minha avó melhor e amá-la muito mais. Tenho tanta pena dos meus primos que não podem partilhar isso, de que fazem visitas sociais rápidas e esporádicas e eu tenho minha avó ali todo dia, participando da minha vida.
Mas quando ela se for, eu sei que vou chorar muito, mas vou ter minha mãe e minha irmã pra apertar minha mão e dizer que vai ficar tudo bem, pois é assim que a gente vive.

quinta-feira, agosto 17, 2006



Empregos ponto com
Antes de começar a escrever, eu gostaria de dizer que não estou desiludido, ok?
Desiludido nem seria a palavra certa para empregar (vixi, olha o verbo!) porque a gente fica um pouco receoso mesmo. Também não seria desesperanço ou ou mesmo decepcionado, mas se existisse um amálgama dessas três para exemplificar algo passageiro, eu estaria empregando (olha aí, de novo) esse neo-verbo.
Passei, literalmente, o dia preenchendo vaga de emprego/trainee na Internet. Nossa, que saco. Fora aquele lenga, lenga supremo que os sites de emprego nos fazem preencher, os para trainee são igualmente enfadonhos. Besta é quem paga fora o pacote básico paga para ter "dicas de como fazer um curriculum". Se esses sites querem já tudo esquematizado, sem você ter muita opção pra ser criativo, ou ao menos tentar esboçar alguma criatividade, pra que pagar Reais a mais com essa dica?
A dica é: preencha tudo e todos. Uma hora seu emprego aparece.
O que torna as coisas um pouco limitadas, é que percebi que a sua formação pouco importa perante sua experiência profissional. Que diabos! A gente estuda anos a fio para exercer uma profissão e o diabo do site de empregos quer que você faça a mesma coisa daquele seu primeiro emprego, que você tinha no começo da faculdade pra pagar as farras. Não dá, bêibe.
Teria que se direcionar mais o profissional, sabe? Perguntar "o que você se sente capaz de realizar?", "quais das funções abaixo condiz com o seu perfil?". Não é porque alguém não foi promovido na empresa anterior que não tenha capacidade de exercer um cargo superior em uma nova empresa.
Estão tornando nossos empregos em dados imediatistas, e com isso deixando de fora do mercado pessoas capacitadas com vasto potencial de aprendizado. As empresas não parecem mais interessadas em motivar seus funcionários, e nem o emprego veste a camisa da empresa porque no final das contas chega na negociação de 40% no encerramento do contrato.
A forma como se emprega pessoas tem que mudar, senão empregos serão como imensos guarda-roupas onde trocamos quando nos cansamos. E a comunicação é parte imprescindível disso. Ela vai buscar essas informações, motivar o funcionário, tornar a empresa um ambiente saudável de trabalho, onde as pessoas estão ali para produzirem e serem recompensadas por isso. Só o salário, VR, VA e planos de saúde e dentário não bastam. Se o ser-humano não estiver se sentindo satisfeito, reconhecido, ele vai buscar outro lugar, e assim a empresa perde. Tempo e dinheiro, pois vai necessitar de tempo para teinar alguém até que esse supra a capacidade de quem já produzia.
Empresas, dêem ouvidos ao endomarketing e marketing de relacionamento! Comecem disso na análise dos currículos, transforme o empregado co-responsável pelo seu sucesso. Ao contrário seremos, todos nós, estatísticas.

sábado, agosto 12, 2006


Dia dos Pais


Faz catorze anos que não comemoro essa data. Que é triste e enfadonha ter que conviver com a família dos outros para agradar minha mãe, que acho não querer ficar em casa. Também nunca disse que por mim passaria o domingo dos pais dormindo, mas a vejo querendo ir almoçar com meus tios, talvez por forma de resgate do meu avô, que também já se foi, então eu vou.
Mas não me divirto. Rezo pra colocarem a sobremesa e voltar pra casa. Me questiono muito nessa data, mais do que no Natal. Não sei explanar o porquê, mas eu acho que é a única data que eu queria mesmo pra ficar perto do meu paizão. Natal é uma data tão família que me preenche a falta dele. Mas dia dos pais e o beijo e abraço do dia 31 de dezembro fazem falta, muita.
Crescer sem pai é complicado, a gente perde o referencial de homem. Nunca tive muita liberdade com nenhum dos meus tios, e o único cara que conheço que poderia preencher a falta do meu pai mora em Brasília. Que bom que agora, mais velho, quando posso ir à Capital Federal tenho como desfrutar de momentos com o tio Ricardo, jogando conversa fora, tomando uma cerva e gosto quando ele me explica coisas que não entendo e relembra meu pai. Recentemente ele disse que meu pai tinha sido seu grande amigo, e não existe palavras que eu pudesse colocar aqui, quando ele disse que poderíamos, minha irmã e eu, sentí-lo como se fosse meu pai. É verdade, eu sinto isso mesmo.
Tenho a mesma imagem congelada em minha cabeça desde 92, com o ideal de homem que quero ser, e que sou. Mas não conheci o meu pai profissional, não tive oportunidade de ver como ele se posicionava, o que achava, seus contatos, pois quando o acompanhava minha única atenção era ficar desenhando num canto de mesa e esperando pra ir lanchar com ele no meio do expediente.
Também nunca tomei uma cerveja com meu pai, e isso me dói muito. No bar, é onde os homens conversam e relaxam tomando uma. Não sei qual marca de cerveja ele mais gostava, se sabia abrir com o isqueiro ou garfo, mas sei que ele sempre mandava trazer uma Coca-Cola, kibe ou batata-frita para mim, e chamava os garçons pelo nome. Prática que aprendi para ser bem atendido em qualquer local do mundo.
Sei que meu pai fumava Carlton ou Free, mas nunca Hollywood, e talvez por isso eu tenha aversão à cigarros. Existe uma história que quando eu tinha cinco anos (um pouco maior que esse rapazinho da foto) o pentelhava pra deixar de fumar. Molhava carteira, quebrava cigarros e até os tirei da sua boca. Então ele resolveu me colocar contra a parede e me fez escolher entre ele parar de fumar ou dar o desejo de 10 entre 10 crianças dos anos oitenta que assistiam o Bozo e o Domingo no Parque: a bicicleta.
Minha mãe me conta essa história, eu não lembro. Parece que meu pai estava certo de que eu não titubearia em nenhum momento sobre a escolha. A bicicleta era a escolha mais óbvia, afinal eu era uma criança! Já certo de minha resposta ele comprou uma bicicleta, era daquelas de corrida, com pneus grossos amarelos, uma placa da mesma cor com o número 35, tão em voga nas breguices dos anos 80.
Minha mãe diz que ele esperou eu encher o saco dele em pedir uma bicicleta e fez a pergunta "Filho, você quer que o pai deixe de fumar ou quer a bicicleta?". A resposta veio de supetão, sem nenhum vacilo na minha voz "que você deixe de fumar..." e quando ele encheu os olhos d'água (sim, meu pai chorava, e por isso o acho tão humano) eu completei "a bicicleta eu posso pedir no Natal", revelando como funcionava minha mente infantil, de presentes em datas certas.
Naquele 12 de outubro eu ganhei uma bicicleta, e essa memória eu tenho na mente, dele no pátio do prédio me ensinando a andar enquanto algumas crianças que não ganharam uma bike, pediam pra dar uma volta. Eu gosto de ter o pensamento que ele tentaria a mesma brincadeira aos 18, para ver se a resposta seria diferente. Um carro ou a promessa de que eu o teria junto comigo mais anos?
Tenho 29 anos. Faz 14 anos que eu não tenho meu pai participando da minha vida de forma direta. Ano que vem me assusta, pois vai fazer mais tempo que ele está ausente do que presente. Sei que é a ordem natural das coisas, já que o tempo não corre pra trás, mas quando tenho esse pensamento me vem a vontade de chorar.
Só tem uma coisa que me conforta. Se aos cinco anos de idade eu tive peito em dizer pro meu pai que eu queria que ele parasse de fumar ao invés de uma bike, ele morreu na certeza de saber exatamente o tipo de homem que eu ia me tornar.
E assim, eu espero ser pai-herói um dia.

quarta-feira, agosto 09, 2006


Primeira Carta ao João André
Oi João André!
Tudo bem, rapaz? Claro que está, ainda no quentinho da mamãe, protegido, se alimentando, crescendo e aguardando o dia em que vai conhecer esse mundo de gente que fala com você através do umbigo da sua mamãe, não é?
Poisé, por isso é bom você saber de algumas coisas do lado de cá para não ter nenhuma surpresa, não é mesmo?
Primeiramente vou falar de tuas avós, não estranhe quando vires duas mulheres que vão gostar de te apertar as bochechas e o pegar no colo com tamanha facilidade que vais pensar que serás jogado pela janela! Mas pode ficar tranquilo, não vai não, é só a facilidade que elas vão ter, devido a experiência de já ter criado os filhos, entre eles seu papai e mamãe. E fique alerta, quando ouvir vozes e risos altos tenha certeza: tem avó em casa, segure as bochechas!
Com sua mãe já digo que vai ter um pouco de paciência. Embora ela tenha naqueles olhões verdes (e você, já sabe se seus olhos são verdes também?) a vontade e a virtude do instinto materno, ela é mãe de primeira viagem. Vai chorar junto com você quando se desesperar para trocar uma fralda ou apenas porque não vai saber o motivo do seu chorôrô: se é fome, frio ou sede. Tenha paciência com ela, viu? Pegue leve, pare de chorar um pouco e fique olhando pra ela que ela vai te entender.
Quando tiver maior peça pra ela fazer uns bolos gostosos, porque sua mãe é cheia de quitudes na cozinha. Mas cuidado pra não engordar senão ela vai viver lhe policiando e fazendo coisa gostosa só no fim de semana (tem outra coisa maravilhosa do lado de cá chamada Coca-Cola, mas eu só lhe apresentaria depois dos cinco anos de idade pros seus dentes e ossos crescerem saudáveis).
Teu pai, você vai ver, as coisas com ele são mais tranquilas. Vai ter sempre uma piada, uma cosquinha pra fazer e vai ajudar sua mãe nessa tarefa árdua dos primeiros meses, afinal, tudo é novo pra você! Pode levar o teu pai na boa, ele vai querer curtir muito o filho. A mãe é que fica mais em casa nesse comecinho porque você precisa mamar quase o tempo todo. Se um dia você vir teu pai zangado, imediatamente coloque as mãozinhas para trás e fique calado porquê o negócio é sério, eu nunca vi seu pai com raiva de nada na vida, e olha que eu o conheço faz muito tempo!
Aqui em Fortaleza é legal, você vai gostar de sentir a brisa e passear na praia cedinho. Seus avós Zaida e Tarcísio tem uma casa linda na praia e você vai gostar de passar o fim de semana lá também. A família do teu pai é grande e em breve você já vai poder estar brincando com seus priminhos na piscina.

Mas faça um favor pra todo mundo, João André, não goste de forró. Aquilo é uma música horrível pra ficar escutando dentro do carro ou em casa. Pra dançar é gostosinho porque você fica dançando colado com as meninas e pode dar um cheiro no cangote delas.
Sua mãe tá falando que vai te levar pra Itália logo no ano que vem. A Itália é um país legal, que tem uma torre grande e torta que chamam Torre de Pisa, mas ela não é feita de comida não, e nem vai cair. Nunca descobriram um jeito de desentortar a torre, e agora ninguém quer porque ela virou um ponto turístico e histórico. As mulheres na Itália são muito bonitas, você vai ver um monte de pernão passando por você e se tiver uns genes que conheço vai gostar de dar uma espiadinha pra cima! :)
Tem épocas na Itália que é muito frio, diferente daqui do Ceará, mas você não vai precisar se preocupar porque sua mãe é muito zelosa e vai lhe agasalhar com cuidado pra você ficar bem quentinho. E tem uns carrões. Você vai conhecer todos porque teu pai é alucinado por carros, ele vai te mostrar todos e bater fotos suas com Ferraris e Lamborginis. Presta atenção no que ele falar porque em breve você vai poder conversar com ele sobre cilindradas, aros, pintura e motor. E quando tiver fotos, lembra dele mandar pro tio, viu?
Você já vai ter em casa um amiguinho que vai ser seu companheirão! O nome dele é Hover e tem sido o xodó da sua casa, pois é muito bonzinho. É um cachorrinho, as pessoas geralmente tem cachorros porque dizem que são os melhores amigos do homem, e são mesmo viu? Trate ele com cuidado que ele vai brincar muito com você e pedir pra você fazer carinho. Fica esperto que os pums dele são muito fedidos e se ele soltar um perto de você, tape o nariz e saia correndo!
Aproveite ainda esses dias dentro da barriga da sua mãe, você não vai se lembrar deles quando estiver mais velho, mas vai ter a certeza de que é uma época em que era preciso você crescer já sendo amado. Você vai ver quando abrir os olhinhos o quarto lindo que seus pais prepararam pra você! Todo mundo aqui espera ansioso sua chegada, você vai ter uns tios muito legais, nos quais eu me incluo, que quando sua mãe deixar vamos raptar você pra tomar sorvete e levar pra brincar com outros amiguinhos. E se precisar de ajuda lembre que seu papai, sua mamãe, vovô, vovós e seus tios querem só o seu bem, e que farão tudo pra que você seja feliz.
Um abraço do seu tio mais legal.
JB (o Jota é de João, igual ao seu. Será que um dia você vai querer assinar JA?)

terça-feira, agosto 08, 2006


Super-Heróis Reais!!

Obras como Viagem ao centro da Terra, 20 mil léguas submarinas, Da Terra à Lua e outras transformaram Júlio Verne em um visionário, um homem à frente de seu tempo. Isso porque praticamente tudo que o escritor francês criou (como submarino, foguete e tantos outros artefatos considerados frutos de pura imaginação fértil) nessas aventuras fantásticas se tornou uma realidade muito comum hoje em dia. Na semana passada, duas notícias que circularam em revistas e sites especializados devem ter feito os fãs de Stan Lee acreditarem veladamente que o velho mestre irá figurar no mesmo panteão de Verne, daqui a não muitos anos.

A BAE Systems, uma companhia britânica que pesquisa, desenvolve e produz tudo o que se possa imaginar para incrementar o poderio de defesa e ataque das forças armadas, está desenvolvendo um tecido superaderente que vem sendo chamado de "velcro molecular".O material, que não usa cola ou pressão para possibilitar a um ser humano escalar paredes como o Homem-Aranha, recria a adesão natural de aracnídeos, insetos e alguns répteis. Muitas serão as áreas em que isso poderá ser usado, além da militar. "Mas, antes de vestir uma fantasia colante vermelha e azul, vale lembrar que o tecido ainda está nos estágios iniciais de testes", brincou Jeff Sargent, pesquisador-chefe do projeto. Ainda no Reino Unido, o Dr. Ulf Leonhardt, um físico-teórico da Universidade St. Andrews, Escócia, publicou uma pesquisa no New Journal of Physics, na qual descreve dispositivos, baseados na Física, que possibilitariam gerar invisibilidade como a da Mulher Invisível, a poderosa integrante do Quarteto Fantástico, outra criação genial de Stan Lee. "O que a Mulher Invisível faz é curvar o espaço à sua volta, dobrando a luz. E o que os dispositivos fariam seria imitar essa curvatura", disse o cientista em uma entrevista concedida à agência de notícias Reuters.
Com o perdão do trocadilho, isso seria mesmo... fantástico.
*Seria fantástico mesmo. Eu fico em dúvida se queria escalar paredes ou ficar invisível. Com a minha aversão por altura, acho que ficar invisível seria menos traumático :)
(retirado do Universo HQ)

sexta-feira, agosto 04, 2006


Tudo o que você sempre quis saber sobre as pin-ups, sem nunca ousar perguntar
Desenhadas ou fotografadas, elas encarnam há um século o ideal feminino de homens carentes, e tiveram em Marylin Monroe seu principal símbolo

"Oops! Deixei cair a minha calcinha...", exclama uma linda garota, com uma perna para cima e os seios arrebitados. Sexy, sorridente e bobinha, tal é o estereótipo da pin-up. Uma garota de papel que os esportistas nos vestiários ou os soldados nos quartéis penduram por meio de alfinetes (to pin-up), há mais de um século. Que ela seja desenhada ou fotografada, numa revista ou num calendário, a pin-up não é uma mulher de verdade, e sim uma fantasia: ela é feita para ser devorada com os olhos, e não para casar.

Marilyn Monroe, a pin-up prototípica, posa para um retrato, registrado em 1956. A bela está sempre desnudada, porém raramente nua. Isso porque o gênero pin-up, também chamado "cheesecake" (bolo de queijo), é fundamentalmente pudico. Os homens permanecem fora do cenário; as partes genitais ficam escondidas e o ato sexual é apenas sugerido, nunca consumido. O que explica o porquê do atual desvalimento da pin-up, considerada como obsoleta nesses tempos de licença sexual: daqui para frente, ela que conheceu sua hora de glória nos anos 1930-1950, nos Estados Unidos e no resto do mundo, está se vendo relegada às páginas especiais da revista "Playboy", ao calendário da Pirelli e à "página 3" dos tablóides britânicos.

A pin-up mais célebre do século 20, Marilyn Monroe, contribuiu de maneira considerável para impor o clichê da boneca loira, passiva e inocente, à espera do bem-querer do homem. Contudo, "a pin-up não é um símbolo mais misógino do que qualquer outro no campo artístico", corrige Maria Buszek, autora do livro "Pin-up Grrrls - Feminism, Sexuality, Popular Culture" (2006) e mestre de conferências no Kansas City Art Institute. "Ela refletiu ao mesmo tempo as atitudes vis-à-vis da sexualidade feminina e as esperanças de mudança".

Cada época, portanto, fabricou uma pin-up que corresponde às suas próprias aspirações: ora uma deusa agressiva e conquistadora, ora um objeto sexual descerebrado.
O termo "pin-up" data dos anos 40, mas a bela é filha da revolução industrial. "É no século 19 que são reunidas as condições para a emergência do gênero", indica Maria Buszek, "quando surgem os meios de produção das imagens em massa, uma classe média urbana e uma sociedade mais aberta à representação da sexualidade feminina". Aos poucos vão sendo difundidos, na Europa e nos Estados Unidos, os calendários sexy, os cartões-postais e os pôsteres de atrizes de teatro, por vezes desnudadas.
Mas é a revista americana "Life" que vê surgir o primeiro grande fenômeno pin-up, em 1887: a "Gibson Girl". Desenhada por Charles Dana Gibson, ela é burguesa, chique e está... vestida! Mesmo se os trajes de banho que descem até os joelhos, parecem ser claramente ousados. Enquanto as sufragistas, nas ruas, são alvos de vaias, que os jornais populares zombam da "New Woman" que pretende trabalhar e ser independente, Gibson impõe esta nova mulher como um ideal romântico.
Com um belo corte de cabelo; bem arrumada, ativa e segura de si, a Gibson Girl seduz os homens com o seu charme, e as mulheres com as suas roupas na moda. Em 1903, Gibson é o ilustrador o mais bem pago do país.
A idade de ouro da pin-up tem início durante os anos 30, com dois desenhistas que se tornaram clássicos do "cheesecake": George Petty e Alberto Vargas, fazendo o sucesso da revista americana "Esquire". Logo no seu primeiro número, em 1930, esta publicação masculina de alto padrão enfia nos intervalos das suas páginas de política e literatura uma "Petty Girl": no começo, inteiramente vestida, ela irá se desfazer das suas pétalas no decorrer dos anos, antes de inaugurar, em 1939, o primeiro "caderno central de três páginas", que deve ser desdobrado e destacado.
Enquanto a "Petty Girl" é uma ingênua charmosa, a "Varga Girl", que lhe sucede, banca antes a mulher fatal. As duas têm em comum uma plástica totalmente irrealista (pernas desmedidas e cintura de abelha), e um sucesso avassalador. O primeiro calendário de "Varga Girls", publicado em 1940, é um best-seller. E a pin-up vai conquistando seus títulos de respeitabilidade: as revistas generalistas("Time", "Look", "Cosmopolitan"...) passam a aderir a esta nova arte popular, e pedem a artistas para criarem esboços das stars de cinema no estilo "cheesecake".
O intervalo entre as duas guerras mundiais vê surgirem dezenas de desenhistas de pin-up, mais ou menos inspirados: Gil Elvgren, o chefe da "escola maionese", cria calendários inspirando-se em Norman Rockwell e assina propagandas para a Coca-Cola; Art Frahm faz do "oops-deixei-cair-minha-calcinha" sua cansativa assinatura; e Zoé Mozert, por sua vez, faz dela mesma o seu modelo.
Mas, para que a pin-up se torne a arte popular americana por excelência, vai ser preciso esperar até a Segunda Guerra mundial. Ela é então requisitada pelo exército para reforçar o moral dos GI's: as "Varga Girls" passam a cobrir seus corpos nus com a bandeira estrelada, alistam-se como enfermeiras, trajam o uniforme da Navy.... De um símbolo sexual libertino, a pin-up é elevada à patente de "deusa guerreira" e acaba personificando a mulher americana - segura de si e audaciosa.
Anônimas e atrizes de cinema espalham-se pelas paredes dos dormitórios e as portas dos armários dos soldados, dentro dos seus abrigos e até mesmo sobre a fuselagem dos aviões: é a "nose art", discretamente incentivada pelas autoridades militares. Nunca a revista "Esquire" recebeu uma correspondência tão grande de fãs. De 1942 a 1946, 9 milhões de exemplares da revista são enviados gratuitamente para as tropas. Além disso, em 1942, quando os Correios americanos ameaçam retirar-lhe suas tarifas privilegiadas sob o pretexto de que os seus desenhos são "pornográficos", a "Esquire" ganha seu processo, demonstrando o papel patriótico das suas criaturas de sonho.
As pin-ups mais célebres naqueles anos são a loira Betty Grable e a ruiva Rita Hayworth. A primeira causa sérios estragos nos corações dos GI's com uma foto na qual ela nem sequer mostra seus seios: de costas, trajando um maiô de uma só peça, ela desafia com insolência a objetiva, com um sorriso travesso. Diz a lenda que ela acabou posando desse jeito para disfarçar uma gravidez nascente... Ela recebe dez mil cartas de fãs por semana, e esta foto serve de trampolim para a sua carreira de atriz.
Os "tommies" britânicos também têm a sua pin-up: Jane, uma espiã de pouca roupa a serviço da Sua Majestade, é publicada em histórias em quadrinhos no "Daily Mirror". Astuciosa, Jane nunca perde uma oportunidade para rasgar suas roupas - Ah! Esses danados fios de arame-farpado!... Ela é tão famosa que os soldados são autorizados a embarcar provas inéditas da série a bordo dos submarinos, de modo a não perder nenhum episódio.
Enquanto os combates estão no auge, a pin-up exibe orgulhosamente sua glória e sua independência. Mas o fim da guerra, que vê se impor a pin-up fotografada, muda por completo as regras do jogo. "Os anos 50 são conservadores", comenta Maria Suszek. "A mulher passa então a encarnar papéis mais tradicionais. É a era da 'virgem eterna' e do 'avião loiro e ingênuo'".
Marilyn Monroe encarna este clichê com perfeição: em 1949, Norma Jean não passa de uma atriz sem um tostão que posa nua para o fotógrafo Tom Kelley. Mas quando é publicado o calendário "Golden Dreams", ela já evoluiu bastante, e o estúdio a aconselha a negar que se trata dela. A jovem mulher opta antes por alertar os jornalistas e acaba sendo transformada em pouco tempo num símbolo sexual dos Estados Unidos. O ícone mítico e sorridente fará a sua glória, mas também causará a sua desgraça: é difícil impor-se como uma atriz séria quando você encarnou a loira descerebrada cujo vestido é levantado pelo vento ("Sete anos de reflexão", 1955, de Billy Wilder).
Há muito tempo, o "cheesecake" tem o seu equivalente masculino, mais discreto: o "beefcake". Na época de Marilyn, o apolo Tab Hunter é recrutado pelos estúdios para encarnar junto ás adolescentes o solteiro branco, loiro, tranqüilizador e viril, contra o "bad boy" Marlon Brando. O pobre ator, que se vê obrigado a concluir todas as suas entrevistas com um comentário fazendo a apologia da vida matrimonial, é na realidade homossexual... Desde então ele contou sua vida dupla num best-seller amargurado, "Tab Hunter Confidential" (2005).
No decorrer dos anos, o mercado da pin-up se vê limitado às revistas para homens. Em 1953, uma nova revista, a "Playboy", toma o lugar da "Esquire" (que se desinteressou de uma vez por todas da pin-up), e se especializa no "cheesecake". A primeira "playmate" das páginas centrais é uma certa Marilyn Monroe. Por trás das suas reivindicações de liberação sexual, a revista faz da pin-up uma boneca sem personalidade. As poses são previsíveis, as fotos retocadas - as modelos são fotografadas no frio, para que as suas mamas fiquem arrebitadas. A pin-up da geração Playboy ou Pirelli - o calendário da marca de pneus nasce em 1964 - afastou-se do grande público.
Será que por causa disso o "cheesecake" morreu? "Ao contrário, ele está em todo lugar", afirma Maria Buszek. "Toda e qualquer foto de Britney Spears é uma pin-up. Mas ninguém a chama mais assim". Ainda subsistem alguns desenhistas nostálgicos para manter a chama viva, reinterpretando as pin-ups históricas, tais como Betty Page. A pin-up também conquistou o campo da arte, com artistas tais como Cindy Sherman, que, desde os anos 70 vem desenvolvendo uma reflexão a respeito da representação da mulher.
Mas, a herança a mais recente da pin-up talvez deva se procurada do lado do "novo burlesco", nos Estados Unidos. Trata-se de uma corrente que vê as garotas combinarem, no palco, o cabaré com o strip-tease kitsch. Será um retorno às origens? De fato, foi nos teatros, no século 19, que nasceram as primeiras pin-ups: sexy, espertas e... feministas.
Retirado do Le Monde.