segunda-feira, dezembro 21, 2009

.: hipólita :.


Jonas era considerado uma pessoa amável, disponível, interessado e bruto. Sim, bruto. Ele odiava quando falavam isso e ficava com mais raiva ainda quando floreavam dizendo que ele não era bruto, apenas tinha pouca tolerância.
Por conta do seu temperamento e sempre se meter em assuntos que nem lhe diziam respeito, sua mãe achava que seria um bom advogado. Mas o ócio incomodava Jonas mais do que a injustiça e quando escolheu sua profissão queria uma em que tivesse algo diferente todos os dias, mesmo que tivesse que matar um leão diariamente.
Embora Jonas admitisse que gostava de brigar e defender seu ponto de vista ele hoje aos 30 anos estava longe de ser quem era aos 18. Alguns amigos de longa data admitem que ele está mais... tolerante. Pacífico, diriam alguns. Embora nunca tenha brigado de fato, com direito a socos e pontapés, ele sabia que sua língua, muitas vezes ferina, era sua maior arma.
Jonas não gosta, mas reconhece que perdeu o ímpeto. Perdeu a vontade de esbravejar, mesmo que continue se indignando com algumas atitudes. Principalmente em seu círculo de amizades. Não tolera mesquinhez e nem que um amigo deixe de conversar sobre o que o incomoda. Diz que não há nada que uma boa conversa não cure, melhor do que se esconder e ficar semeando achismos.
Embora costumasse guardar rancor e remoer a desilusão que tinha com as pessoas e, muitas vezes demorasse a perdoar, quando Jonas perdoava era de coração aberto. Tinha um grande amigo que passaram anos sem se falar, mas no dia que sentaram e conversaram parecia que esse tempo não havia passado.
Normalmente, quando Jonas estava triste com algum amigo, ele se recolhia para pensar e fazer um passo a passo mental buscando saber se havia errado e onde. Dava um tempo para a pessoa procurá-lo e, juntos, tentarem esclarecer as divergências. Nem sempre era bem interpretado, e isso o frustrava bastante. Quando chegava em casa desligava o telefone, tomava um banho quente e preparava uma dose de whisky. Sentava-se em sua poltrona cor de café, esticava as pernas e tentava fisgar um pedaço da lua pela janela do apartamento. Sempre que Jonas sentava na poltrona, sua cachorra Hipólita lhe fazia companhia em um desenfreado abanar de rabo. A daschund preta pulava em seu colo e com o focinho empurrava a palma de sua mão em busca de afago. Ali, por mais triste que pudesse estar com alguém, sabia que tinha uma amiga fiel.

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