sexta-feira, dezembro 18, 2009

.: o amanhã :.


Sentado em sua cama semi enrolado no edredon listrado, Jonas olhava fixamente para a parede. Queria colocar algo ali. Um quadro, talvez? Ou um adesivo com grafismos modernos. Talvez uma foto de família ou um espelho. O vazio o incomodava.
Jonas coça os olhos e boceja. As vezes lembra de quando conseguia acordar muito cedo- e dormir mais cedo ainda - e o quanto o volume de trabalho, o computador e a prorrogação que ele mesmo se impõe da hora do sono, fizeram aparecer várias rugas e uma olheira que insiste em não diminuir.
Jonas não era vaidoso, longe disso. Sua única obsessão era com os cabelos, se estavam penteados e bem cortados. Com a chegada dos trinta anos e a inevitável queda dos cabelos chegando, Jonas se preocupou um pouco (na verdade muito), mas relaxou quando percebeu que não ficaria careca. O volume diminuíra, mas ainda estava com o velho topete que o acompanhava desde bebê.
Levantou e arrastou-se pela beirada da cama tendo o cuidado de pisar primeiro com o pé direito. Sempre o pé direito. Para começar bem o dia. É um dos vários tocs que ele acumulou durante a vida, mas que não o incomodavam de viver. O outro era não deixar o chinelo virado. "Se não desvirar a mãe morre". E, desesperado, nunca o deixou dormir emborcado, virando instantaneamente.
Espreguiçou-se. Andou até o banheiro e viu o homem que se tornara. Estava longe de ser um galã, ou como dizia brincando "far far away". Mas estava satisfeito com o que via. Podia não ser belo, mas era sincero, leal e altruísta. Acima de tudo, Jonas acreditava no amanhã.

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